Todos os anos, desde 1998, o Graal envia adolescentes ou jovens mulheres para participarem na sessão anual do CSW (The Commission on the Status of Women), que se reúne todos os anos em Nova Iorque, durante duas semanas, na sede das Nações Unidas. Todos os anos reúnem-se em Nova Iorque representantes de Estados-membros das Nações Unidas, representantes da sociedade civil, organizações não-governamentais (ONGs) para debater, em conjunto, a situação e o papel da mulher e das adolescentes em cada país e no mundo, de uma forma geral. Discute-se o acesso das mulheres à educação, formação, ciência e tecnologia, bem como a igualdade de acesso das mulheres a emprego e trabalho decente, entre outras questões de relevo.
Este ano, a sessão anual da Comissão sobre o Estatuto da Mulher celebrará, já neste mês de Março, o vigésimo aniversário da Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Pequim, em 1995. A Declaração de Pequim e Plataforma de Acção, aprovada por unanimidade por 189 países presentes naquela Conferência, é considerado o documento fundamental da política internacional sobre a igualdade de género. Neste documento, são abordadas e feitas recomendações em áreas como: as mulheres e a pobreza, a violência contra as mulheres, os direitos humanos das mulheres, a situação da adolescente, entre outros problemas e desafios. Desde 1996 que a Comissão sobre o Estatuto da Mulher assume um papel preponderante no acompanhamento e análise dos progressos e lacunas na implementação da Declaração de Pequim nos países membros, bem como dentro das actividades e acções em geral das Nações Unidas.
Em 1953, o Graal, juntamente com outras organizações de leigos católicos, fundou a UFER (Movimento Internacional pela União Fraterna entre Raças e Povos) e desde então foi estabelecendo um contacto cada vez mais próximo com as Nações Unidas. E, em 1998, o Graal passou a gozar, por si próprio e enquanto ONG, do estatuto consultivo no Conselho Económico e Social das Nações Unidas e, por isso, pode participar, enquanto membro observador ou convidado das sessões oficiais ou dos eventos paralelos. Por outro lado, o Graal acompanha o trabalho da Comissão do Estatuto da Mulher, bem como da ONG Committee on the Status of Women (New York) e, simultaneamente, faz parte do WGG (Working Group on Girls). O WGG representa uma coligação de mais de 80 ONG com estatuto consultivo nas Nações Unidas que se dedicam a promover os direitos humanos das jovens adolescentes em todas as áreas e etapas das suas vidas.
Este ano, o centro do Graal no Bronx (Nova Iorque) acolherá cerca de 30 jovens adolescentes e mulheres, membros e/ou participantes das actividades do Graal em diversos países (Austrália, Bélgica, Brasil, Estados Unidos da América, Itália, México, Moçambique, Portugal, Suécia, Tanzânia) que participarão na 59.º sessão anual da Comissão sobre o Estatuto da Mulher. Para além da agenda oficial preparada pela Nações Unidas, as ONG acreditadas organizam também um extenso painel de sessões que decorrem fora da sede das Nações Unidas mas que se debruçam sobre os mesmos temas (side events). O Graal organiza todos os anos uma sessão aberta ao público, relacionada com a condição das raparigas e os desafios e problemas que estas enfrentam. O título da conferência será: Now’s Our Chance – Designing Our Future for the next 20 years e as protagonistas serão as jovens adolescentes, que terão a oportunidade de se pronunciarem sobre a sua própria realidade e sobre o que gostariam de ver transformado nos próximos 20 anos.
No dia 8 de Março, dia Mundial da Mulher, todo o grupo irá participar na “Marcha pela Igualdade de Género e Direitos das Mulheres”, organizada pelas Nações Unidas, em colaboração com a Cidade de Nova Iorque, NGO-CSW, o Working Group on Girls, Man Up Campaign e a UN Women for Peace Association. Será uma ocasião especial para celebrar o aniversário da Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres e a adopção da Declaração de Pequim e da Plataforma de Acção.
Há vários anos que esta experiência internacional se repete no Centro do Graal no Bronx, graças ao trabalho de equipa do GLUNN (Grail Link to the United Nations Network). É um tempo memorável para todas mas que marca, de um modo especial, as jovens raparigas que vivem, muitas vezes pela primeira vez, a dimensão internacional do Graal, ou por outras palavras, que têm a oportunidade de experienciar o que é o Graal para além das fronteiras dos seus próprios contextos. Simultaneamente, este tempo representa para a maioria uma oportunidade de conhecer mais de perto o trabalho das Nações Unidas e sentir-se parte de movimento global que pretende transformar o mundo num lugar mais pacífico, sustentável e fraterno.
Sónia Monteiro
Testemunho de uma das participantes portuguesas na sessão anual do CSW
Ser participante do CSW 58 foi uma experiência única, em todos os aspetos. Ter a oportunidade de participar foi muito enriquecedor. Foram duas semanas em que fiquei emergida num ambiente humanitário/social, onde ocorreu troca de ideias, partilha. Permitiu-me ouvir e conhecer diferentes tipos de vida, e outros tipos de experiências.
O facto de poder complementar as sessões na UN com as conferências das ONG, foi bastante esclarecedor, acho que de outra forma não existiria um equilíbrio no tratamento de questões tão delicadas, para as quais é necessário essa simbiose de trabalho entre governos e ONGs. Senti-me inspirada e entusiasmada pelo futuro, mas em certa parte igualmente desiludida. (…)
Estar também integrada no Graal, vivenciar e conviver com várias ativistas de várias idades, foi um dos pontos mais positivos desta experiência. Possibilitou a discussão diária sobre o que assistíamos. Foram duas semanas de muita partilha e de criatividade social, em que se pôs em prática o pensamento próprio. Igualmente, estar num ambiente multicultural é entusiasmante, fiquei com uma noção mais realista das diferenças culturais, e como essas afetam e impulsionam o desenvolvimento destas temáticas.
Participar num evento desta envergadura, ver como funcionam os governos, as particularidades que exigem, a dificuldade em chegar a um consenso, as delicadezas necessárias, as formalidades, foi bastante interessante. (…)No decorrer do CSW 58 foi feito um balanço das metas que foram cumpridas, e por mais positivo que sejam os presentes e futuros projetos, os objetivos não foram cumpridos, e muitos ficaram aquém e com alguns retrocessos.(…) Por isso, na minha opinião, a questão cultural, foi usada e manipulada como “escudo” contra as alterações necessárias para a reivindicação dos direitos das mulheres e raparigas. Atos barbáricos como a mutilação genital feminina, o casamento infantil e forçado, e outras situações, continuam a ser encobertos pela ideia errónea de “tradição cultural”.
Em conclusão, o CSW 58, permitiu-me vivenciar e partilhar conhecimentos que de outra forma jamais teria podido. Enquanto pessoa, tornou-me mais consciente para a comunidade e, enquanto participante facultou-me uma noção mais realista dos procedimentos, e da necessidade de existência de ONGs. Também alterou a minha perspetiva sobre o Girl Effect, pois o facto de poder partilhar o trabalho que desenvolvemos, e receber uma resposta positiva de uma audiência tão diversificada foi encorajador (…) ao mesmo tempo, o CSW evidenciou a dificuldade que existe em passar da teórica para a prática. E a realidade é que ao fim de 15 anos as metas não foram cumpridas, e não chegaram perto do ser.
Essa situação, ainda que desoladora, reforça a importância das ONGs, e do trabalho que o Girl Effect, e tantos outros projetos, estão a desenvolver. E mesmo que não vejamos numa primeira instância, o que fazemos contribui para a mudança.
Carolina Pinto Basto
(Participou, enquanto membro do Grupo Girl Effect Portugal, no CSW 58, em Março de 2014.)
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