Entre o campo e a cidade: Alternativas em tempo de crise - Apontamentos

No dia 29 de Outubro , Filipa Bolotinha, fundadora e vice-presidente da associação Renovar a Mouraria, Margarida Alvim, directora da associação Casa Velha- espiritualidade e ecologia, em Ourém, Eliana Madeira, coordenadora nacional do Banco de Tempo, iniciativa do Graal, e meia centena de pessoas  encontraram-se no Terraço para ver o pôr-do-Sol, mas também o seu renascer.

Ticha Vasconcelos desafiou-as e ao publico a lerem a nova Encíclica papal “Laudato Si”, e Bolotinha, Alvim e Madeira mostraram como, nas suas diferentes actividades, “os novos tecidos sociais locais” são delineados. “Renovar a  Mouraria” pretende melhorar a qualidade de vida comunitária deste bairro típico de Lisboa antes que ele seja completamente gentrificado, (ie, invadido pela parte nobre da cidade, de tal modo que as camadas mais vulneráveis sejam desalojadas para os subúrbios).  o projecto “Casa Velha” pretende ultrapassar os objectivos economicistas do turismo e desenvolver o conceito de fruição espiritual e ecológica. A terceira proposta, a do “Banco de Tempo”,  mostra o sucesso que a iniciativa  teve: a troca de horas de serviços , competências, aprendizagens e sociabilidades, onde qualquer actividade é equiparada, e qualquer prestador/a de serviços é simultaneamente agente e beneficiário/a.

O público, diverso e atento, mostrou uma grande curiosidade nos desafios e opiniões de cariz social e urbanístico destas organizadoras:  as comunidades estrangeiras em Portugal,  os percursos individuais,

O testemunho destas três actividades mostraram a preocupação por uma economia solidária e justa, onde todos são participantes e actuantes, contribuidores e angariadores. O campo e a cidade em tempos de crise mostram como são espaços que originam novos espaços: o privado dentro do público, o oikos, eco (casa) na economia e na ecologia. A mulher, que durante tantos séculos esteve confinada ao espaço doméstico, vê-se agora liberta num público desumanisado.  Não se trata apenas de familiarizar a rua, a casa, ou o banco ; trata sim de criar um sistema e genealogia (para o passado e futuro) de redes afectivas, com valores ético-político- sociais em que não haja desunião entre o trabalho e o lazer, a cidade e a casa, o corpo e a natureza, e sim, também, espírito.

Joana Serrado