Para nos falar da encíclica Laudato Si, no passado encontro nacional de dia 8 de Novembro, tivemos connosco Elena Lasida. Natural do Uruguai, há 20 anos residente em Paris, Economista e Teóloga, doutora em ciências sociais e económicas e com trabalho de base, nomeadamente na Comissão Nacional de Justiça e Paz.
Assume-se como “mulher de fronteira”, naquele lugar que separa e que também permite o encontro, numa vida que teve a sua origem no Uruguai (Hemisfério Sul) e a sua vivência em França (a Europa), com tudo o que representa em cada uma das culturas o pensamento e o posicionamento perante o mundo. Da sua experiência de professora e do encontro de gente em acção surge uma tensão, uma urgência no tempo que a conduzem à reflexão sobre Ecologia e Sociedade.
Economia versus teologia: são opostas ou podem cruzar-se?
Podemos situar-nos na atitude moralista: a teologia condena a economia ou duma outra forma: o que ambas nos dizem da pessoa humana (antropologia) através da transcendência (vista sob diversas formas: religião, arte, natureza,…)?
É nesta que Elena Lasida se coloca.
A encíclica Laudato Si difere de outras pela sua linguagem acessível, capaz de ser entendida por toda a gente e não só pelos cristãos, escrita em forma de diálogo e referindo-se frequentemente às conferências episcopais de muitos países (igrejas locais). Ela não se apresenta como um dogma e exprime uma força e uma sabedoria que “vem de baixo”. Inscreve-se na tradição da Igreja e vem na sequência de outras, nomeadamente da Doutrina Social da Igreja, mas traz algo novo.
Para Elena Lasida o texto da encíclica assenta essencialmente em três pilares, três conceitos e três fortes apelos (três gritos).
Primeiro pilar – ”tudo está ligado”, relacionado: a Espiritualidade e o Social (Económico e Político) tecem todas as dimensões da vida.
O tom de base é o da antropologia cristã, fazendo deslocar o centro do “humano” para o equilíbrio entre “toda a criação”. O Papa define o ambiente como “a relação que existe entre a natureza e a sociedade que a habita”.
O segundo pilar – é “o dom”. A maneira de se situar frente ao futuro é no Louvor, no encanto da Maravilha, na Alegria. Situa-se no Tempo (Kairos) associado a algo que abre para o novo. Para que serve o tempo; que fazemos com ele? Tomar consciência dos símbolos de morte na situação actual – a tragédia – colocada na escuta dos clamores da pobreza (os mais frágeis) e da ecologia. Não se pode pensar numa sem a outra.
Como estamos presentes no mundo?
Tudo nos foi dado: a vida foi-nos dada, a natureza também.
O terceiro pilar – a fragilidade. Tudo é vulnerável, permanentemente em movimento e isso permite-nos ser criadores, sempre em diálogo. Toda a gente deve poder beneficiar do bem comum que é a Terra.
Três conceitos:
A «Ecologia integral» como o conceito da Criação que vemos nomeadamente na relação entre o ser humano e a natureza.
O «desenvolvimento integral» – dimensão essencial do desenvolvimento de todos os seres humanos e de todas as dimensões da vida humana.
O «diálogo» em conjunto com as criaturas, entre a economia e a política, entre as religiões e as ciências e no qual participem sobretudo as pessoas mais frágeis
Três gritos:
«Construir a nossa casa comum», recuperar o lugar da Casa onde cada ser humano se sinta “em casa”, na Terra. Uma Casa onde se habita. Como estamos presentes em casa: em acção ou em relação?
«Conversão ecológica» – a espiritualidade está em todas as dimensões da vida. Para começar, há que reconhecer a gratuidade, foi-nos dado, o que é diferente de merecemos, de compramos. Foi dado a todas as criaturas: a dimensão comunitária que se inscreve na esperança. O Papa apela à possibilidade de uma nova criação.
«Revolução cultural» – mudança de paradigma. O essencial passa pela relação/reconhecimento do que são os outros. Ter consciência do que é o progresso, como se define o progresso. O que é uma vida boa? O que é viver bem?
O diálogo que se seguiu permitiu explicitar algumas das interrogações e perplexidades do grupo reflectindo sobre o que temos, o que somos, o que queremos ser, o valor das coisas não passível de contrapartida monetária. Como se mede o crescimento? O Produto Interno Bruto (PIB) exprime a riqueza de um país? O que é o valor e o que é o preço? A economia a partir de quê? A nossa relação com o tempo enquanto homens e mulheres: é o mesmo? O Papa define o ambiente como “a relação que existe entre a natureza e a sociedade que a habita”. Como pôr em acção as interpelações? Foram algumas das questões.
Manuela Biltes Carvalho
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