Ticha Vasconcelos
Com a Maria Carlos desloquei-me por duas semanas a Angola entre 5 e 20 de Março. O primeiro objectivo era trabalhar com e apoiar o emergente grupo do Graal no Lobito. O segundo objetivo era ir ao Lwena e colaborar na avaliação do projeto MAP que tem sido regularmente noticiado no site do Graal. Mal chegada do Uganda e Tanzânia eis-me regressada a esta África que me educa, desafia e inspira.
As cerca de treze companheiras deste grupo, iniciado há cerca de 10 anos pela Teresinha Tavares, constituem um Graal emergente que esperamos possa ser reconhecido e afirmado na próxima Assembleia Geral Internacional. A Equipa de Liderança Internacional pedira ao nosso país que indigitasse alguém para dar apoio e eu ofereci-me… com um gosto imenso.
Graal no Lobito
… um grupo de grandes mulheres – Teresa Muenho, Patrícia Muenho, Elsa Canuma, Isabel Dias, Fátima Pimenta, Rita…a Renata encontra-se em Luanda a fazer uma especialização para exercer jurisprudência enquanto cuida do seu bebé de meses – agregadas e congregadas por uma família alargada que as ajuda a cuidar dos filhos, a conciliar vida profissional e familiar, algumas fazendo estudos à noite para poderem ter uma chance melhor na vida, cuidando de uma casa em que faltam produtos essenciais por via da descida abruta do preço do petróleo que desvalorizou ainda mais o kwanza – isto tudo sem perderem tempo de lazer sempre que possível, mantendo a boa disposição, sentido de humor, a alegria de viver (“Tudo bem, nada mal”, à maneira de Moçambique).
Pessoalmente estive numa espécie de “reciclagem” interior que se transformou em profunda aprendizagem de vida. A formação entre nós aos fins de tarde, num domingo e também numa 3ª feira, dia da Mulher, que em Angola é feriado. Procurámos conhecer-nos melhor, conversámos as nossas vidas e sentidos, o carisma de sermos um movimento de mulheres leigas quer vivamos em África ou na Europa, a dificuldade em conciliar as suas vidas pessoais com uma ação que torne o Graal mais visível. A Maria Carlos conversou sobre o sentido profundo da nossa vocação enquanto resposta à nossa “voz interior”. Lemos e refletimos sobre parte do texto da Alison Healey “Para fora do Império” que está a ser discutido em todos os países onde há Graal, retirado do livro “Deus é o existirmos, e isto não ser tudo” que é noticiado noutro lugar desta Página. Rezámos ao jeito do Graal, com objetos belos e luminosos dizendo a gratidão por estarmos juntas e chamando pela força do Espírito.
Em resultado do nosso planeamento combinámos que a intervenção nas respectivas comunidades se iria centrar, nas “meninas” – seguindo a orientação das Nações Unidas de fazer uma intervenção mais sistemática com elas e apoiando o seu desenvolvimento, escolarização, projetos de vida, de modo a evitar gravidezes precoces e consequente abandono dos estudos. Planeámos aspectos práticos e metodológicos de organização do grupo mas, especialmente, que a Laudato Sí iria ser objeto de estudo aturado ao longo dos próximos meses. Eu própria regressarei em Janeiro para passar um tempo mais prolongado.
No Lwena
No Lwena, já com na companhia da Inês e da Laura, formadoras do MAP ficámos alojadas na residência do bispo D. Tirso – um grande bispo, um verdadeiro pastor, um informado teólogo, um homem profundamente humanizado por 30 anos em África. Visitámos duas aldeias e o Santuário de Moxico Velho, um projeto dos Salesianos de formação profissional de jovens, entre outras atividades.
O bispo do Lwena tem um profundo respeito pelo trabalho do Graal. Entrevistei-o, assim como a outros formadores ou formandos-chave, observei reuniões, fiz contatos informais, na perspetiva investigativa etnográfica de que gosto tanto: entender e avaliar a partir “de dentro” apesar de vinda de fora. Um balanço a tocar o excelente, com limitações, sim, mas fazendo emergir “temas” que poderão ser aprofundados em termos de continuidade do projeto. Para mais informações sobre a metodologia do Training for Transformation consulte-se ainda o recentemente publicado livro “Deus é o existirmos e isto não é tudo” e que, como indiquei anteriormente, é anunciado noutro ponto desta Página e foi escrito pela saudosa Anne Hope.
Pudemos constatar a emergência de lideranças locais muito valiosas e que poderão ser aprofundadas com uma formação mais sistemática. Intuo que o Graal irá continuar com Lwena num processo de formação que irá transcender o tempo limitado de um projeto, tornando-se parte integrante do Lwena e sua múltiplas organizações e movimentos de apoio à “transformação” das comunidades locais.
De regresso à base em Lisboa penso nas acácias de folhinhas tenras que deixavam adivinhar flores vermelhas. Apesar de em Angola se viver a quente e abafada estação das chuvas, descubro este vibrante sinal de primavera. Antecipo o meu regresso ao Lobito com alegria.
Santa Páscoa!
APOIO
O website do Graal foi desenvolvido com o apoio financeiro do Programa Cidadãos Ativ@s.