“A Rhada Paudel é uma activista dos direitos das mulheres no Nepal, ou uma activista da menstruação, como se auto-intitula. O Graal-Foz integrou a comissão que organizou a deslocação de Rhada Paudel a Portugal. 

O objectivo da vinda da Rhada a Portugal era o de dar visibilidade à sua causa. No Nepal, as raparigas e mulheres que estão no contexto da religião Hindu, por serem consideradas impuras, estão sujeitas a um conjunto de “restrições” durante o tempo em que se encontram menstruadas (e na verdade também quando estão para dar à luz). Esta prática tem o nome de “Chaupadi” [1]. Segundo a Rhada, estas restrições são muitas, ela já contou cerca de quarenta. Há muitas matizes de “chaupadi”, desde a prática radical, onde se aplicam muitíssimas (todas, portanto) restrições, até uma prática leve, onde só se realizam algumas restrições. Exemplos de restrições são o: 

• não poder comer determinados alimentos (ex: lacticínios, vegetais, carne – na verdade em casos extremos a rapariga/mulher só pode comer pão e beber água); 

• não poder retirar água de locais públicos (no Nepal nas zonas agrícolas não há água canalizada); 

• não poder lavar-se em rios onde toda a gente vai – o que obriga as mulheres a caminharem para locais mais distantes, afastados de casa, onde têm acesso a afluentes do rio principal 

• não poder tocar em outras pessoas;

• não poder participar em eventos (ir à escola, a festas, a funerais, etc). 

As mulheres menstruadas vivem durante esses dias com os animais, ou em cubículos sem condições dignas. Nos casos menos graves, em famílias mais abastadas, elas são colocadas numa casa pequena ao lado da casa principal, ou num canto de uma sala. Estas restrições para além de retirar dignidade à rapariga/mulher, porque ficam privadas das suas actividades profissionais ou sociais (por exemplo as raparigas não podem ir à escola durante esse período), causam graves problemas de saúde às raparigas/mulheres. Todos os anos há mortes devido ao “chaupadi”. Tanto quanto é do conhecimento público, neste ano de 2018 já morreu em Janeiro uma rapariga de 14 anos. Tanto quanto entendi, não há uma contabilização oficial dos casos de morte devido ao “chaupadi” porque é um assunto tabu. A sociedade vive um clima de silenciamento, e quem fala do assunto é considerada indigna e traidora. A Rhada já recebeu várias ameaças por trabalhar contra esta prática e por defender as mulheres que se conseguem emancipar. 

Infelizmente o “chaupadi” está profundamente enraízado na sociedade Nepalense. Na verdade, a diáspora Nepalense, espalhada por países como os Estados Unidos, o Reino Unido, Alemanha e até Portugal (entre outros), continua a praticar o “chauppadi”, mesmo fora do país. 

A Rhada é enfermeira e por isso tem uma vocação muito forte para a formação e informação em assuntos relacionados com a saúde. A sua missão é salvar jovens raparigas, conscientizando-as, mostrando-lhes que têm direito à dignidade e à saúde. Além disso viaja pelo mundo inteiro, a convite de organizações activistas pelos direitos das mulheres, para passar a palavra. Neste momento tem os seguintes projectos que quer concretizar, para além do seu trabalho de formação e conscientização das raparigas: 

• Criar um centro de informação onde montará exposições sobre materiais relacionados com a higiene feminina e com a vida feminina. Na verdade muitas mulheres vivem tão longe do mundo civilizado que nem sabem que existe algo chamado de penso higiénico que permite que tenham uma vida normal mesmo durante a menstruação.

• Criar uma fábrica de produção de pensos higiénicos bio-degradáveis para poder vender pensos a baixo custo. Nessa fábrica só trabalharão mulheres. Mais tarde penso que pretende criar uma rede de distribuição para que todas as mulheres no Nepal tenham acesso aos produtos. Neste momento já está em negociações com uma empresa para a compra de um máquina de produção desses pensos higiénicos. No entanto terá de criar uma campanha de crowdfunding para pode comprar a máquina porque ela custa cerca de 21 000 doláres. 

• Criar uma loja onde se vendem produtos de higiene para a mulher. 

A Rhada esteve no Porto entre 23 e 26 de Março onde foi entrevistada por vários meios de comunicação social (ver nota), onde participou numa sessão/debate na reitoria da Universidade do Porto e ainda numa tertúlia na Casa Allen, no Porto. Nesta tertúlia participaram 3 organizações dos direitos das mulheres: A UMAR, a Plataforma Portuguesa dos Direitos das Mulheres e o Graal. 

O Graal participou na sessão da reitoria da UP realizando a moderação da sessão, e foi o Graal que identificou a pessoa que foi falar nessa sessão, para além da Rhada, fazendo uma introdução sobre o papel da mulher no cristianismo ao longo dos séculos. O Graal também participou na tertúlia, onde referiu que era muito importante empoderar as mulheres do Nepal através do apoio das organizações internacionais que lutam pelos direitos humanos, e em especial neste caso, pelos direitos humanos da mulher. A UMAR irá colocar a prática do “chaupadi” como um assunto de discussão a ser introduzido nas redes em que está integrada. Enquanto Graal, informámos que estivemos nas Nações Unidas em Nova Yorque na Comission for the Status of Women (CSW) com um grupo de raparigas que preparam em conjunto a sua ida a Nova Yorque (NY), e que em NY apresentam os seus problemas e as soluções para os seus problemas. Pensamos, que seria interessante introduzir uma rapariga Nepalesa nesta rede, e que no próximo CSW se inclua uma rapariga do Nepal para levar a questão do “chaupadi”. 

Conheci pessoalmente a Rhada, privei com ela, e fiquei impressionada com o seu carisma e força. Soube de vários aspectos pessoais da sua vida e senti uma força inspiradora naquela mulher. Vê-se que a missão na sua vida é libertar as jovens raparigas e salvar vidas. Vê-se que abdicou de uma vida como enfermeira num emprego estável num hospital em Katmandu, para ir para as montanhas e libertar estas filhas, como ela lhes chama. É uma mulher extraordinária que admiro profundamente. Senti-me pequena a seu lado, apesar de eu ser tão grande e ela tão pequena.” 

Mariana Curado Malta, 29 de Março de 2018

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Chaupadi

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