Quinta Semana da Quaresma | Maria
Por Xana Lisboa
Alta Senhora, sabr’ás,
que tua santa humildade
te deu tanta dignidade,
que um filho conceberás
da divina Eternidade.
Seu nome, será chamado
Jesu e Filho de Deus,
e o teu ventre sagrado
ficará horto cerrado;
E tu – Princesa dos Céus.
Gil Vicente, Auto de Mofina Mendes

Santíssima Mãe de Deus, vaso espiritual, rainha do amor divino, sois a mais amável, a mais amante e a mais amada de todas as criaturas. O Senhor, desde toda a eternidade, pôs em vós as suas complacências, destinando o vosso puríssimo Coração ao santo amor, para que um dia amásseis o seu Filho único, como mãe, como Ele o amou eternamente como Pai.
S. Francisco de Sales, Tratado do amor de Deus
Na Oração Maria foi perfeita – na relação com Deus foi quem melhor O escutou e a que melhor esteve consciente da Sua presença em si; Deus quis ser seu Filho.
No Jejum Maria foi perfeita – na relação consigo mesmo, o jejum é a renúncia, o auto-domínio: Maria é Nossa Senhora porque em primeiro lugar é Senhora d’Ela.
Na Caridade Maria foi perfeita – na relação com os outros, Maria é o amor, é a doação de si, e Maria doou-se totalmente no seu Sim à maternidade de Deus e aos pés da Cruz, a uma nova maternidade.
Maria é a Síntese e a mais bela das criaturas.
Maria foi a primeira e a melhor cristã.
Maria identificou-se com Cristo mais do que qualquer pessoa (mais do que Paulo que se identificou totalmente).
Maria é a Pessoa perfeitamente realizada, fruto direto da Mão de Deus. Se ela se abeirar de nós ou nós nos abeirarmos d’Ela, seremos aquele ser humano que Deus pensou, cristãos realizados, prontos a entrar no Reino dos Céus. Pessoas Felizes.
A passividade do Sim de Maria é só aparente;
A potência do Sim de Maria teve repercussões cósmicas.
No Sim de Maria cabem todos os nossosPara o Sim de Maria foi necessário fazer-se o VAZIO dentro si mesma – Virgem pura, nascendo o Criador da criatura – para caber Deus dentro d’Ela, o insolúvel Mistério do Infinito dentro do finito.
Não foi, porventura, para Vós mais que uma espada aquela palavra que verdadeiramente trespassa a alma e penetra até à divisão da alma e do espírito: Mulher, eis o teu Filho? Oh que permuta! Entregam-vos João em vez de Jesus, o servo em vez do Senhor, o discípulo em vez do Mestre, o filho de Zebedeu em vez do Filho de Deus, um simples homem em vez do verdadeiro Deus. Como não havia de ser trespassada a vossa afectuosíssima alma ao ouvirdes estas palavras, quando a sua simples lembrança despedaça o nosso coração, apesar de ser tão duro como a pedra e o ferro?
São Bernardo (séc. XIII), Sermões. Liturgia da Horas
