4ª edição do fórum mulheres, teologia e mística

“As Parteiras de Israel: ou a transgressão na solicitude”.

Entre 22 e 26 de Julho realizou-se, no centro do Graal da Golegã, a 4ª edição do Fórum Mulheres, Teologia e Mística, este ano subordinado ao tema “As Parteiras de Israel: ou a transgressão na solicitude”.
Como tem vindo a ser tradição nestes fóruns entrecruzou-se o contributo de mulheres especialistas a nível nacional e internacional em total paridade e de uma forma transversal em termos de saberes e experiências: Irmatraud Fisher, conhecida investigadora austríaca, conduziu-nos pela visita às mulheres do Antigo Testamento – parteiras subversivas, profetizas (mediadoras da Palavra de Deus), conselheiras, mulheres de profunda sabedoria, mulheres que se “desassossegaram” com Deus – numa exegese profundamente original e, simultaneamente, fundamentada na investigação.
Cruzando o seu saber com a teóloga austríaca tivemos o contributo da pesquisa da jovem investigadora Joana Serrado sobre duas desconhecidas místicas portuguesas do século XVII, Joana de Jesus e Maria da Cruz, saboreando uma leitura directa dos seus textos e da narrativa das suas vidas. 
Helena Pereira de Melo, professora na faculdade de Direito (UL) cruzou o direito formal (direito positivo) com o direito natural, nomeadamente o direito da saúde na perspectiva das mulheres e dos dilemas éticos que nos são colocados pelas novas tecnologias de reprodução assistida e pela possibilidade que a ciência nos oferece de “criar vida” – tudo isto enquadrado pela pergunta fundamental: “o que é a dignidade humana”? 
Isabel Allegro de Magalhães (UN) partilhou connosco o seu mais recente pensamento sobre as questões colocadas pelo “ensino social da Igreja” – que outros partos, que novas transgressões?… – percorrendo as diferentes encíclicas (e outros textos, tais como os do Vaticano II) sobre esta matéria, desde Leão XIII até aos nossos dias. Tornou para nós claro que a legitimação de um texto papal não é a mesma coisa que a legitimação de um texto bíblico e convidou-nos a uma “hermenêutica da suspeita” (Elizabeth Fiorenza).
Finalmente, Ana Cristina Assis trouxe-nos a sua pesquisa sobre o ecofeminismo no pensamento de Maria de Lurdes Pintasilgo. Para além dos significativos contributos teóricos destas investigadoras, foi fundamental o facto de estas conferencistas terem estado sistematicamente presentes nas apresentações umas das outras enquanto ouvintes, triangulando os debates com as suas diferentes competências e ramos de saber, garantindo uma transversalidade de conteúdos e reflexões altamente estimulante para as participantes no fórum.
Toda esta imensa reflexão teórica e prática se desenvolveu no espaço cada vez mais belo do Centro do Graal na Golegã, entre poentes magníficos e incandescentes, a paz do silêncio a impregnar os dias, dentro de um tempo e num ritmo que nos permitiam conversar, descansar, rir e celebrar, não esquecendo os longos passeios a pé pelas ruas semi-desertas da Golegã… numa “ligação essencial ao divino” (Isabel Allegro de Magalhães) e dentro de uma perspectiva de “um des-centramento do discurso religioso, para que (se) aceite(m) diversas concepções de religião, de ritual e de fé” (ibid.).

Ticha (Teresa) Vasconcelos