Encontro nacional do Graal -"Abençoar o espaço entre nós"

Há pouco mais de uma semana realizou-se, no Centro do Graal na Golegã, um encontro nacional que reuniu participantes do Graal de vários cantos do país.

Durante um dia, procurámos aprofundar o texto – “Abençoar o espaço entre nós” – lançado pela Equipa de liderança internacional para que todas nós, nos diferentes países, procuremos enraizarmo-nos nos diferentes contextos culturais em que vivemos e encontrar a matriz comum que, nessa diversidade, nos faz sentir e viver com uma mesma perspectiva de comunhão e de sentido.

Trata-se de um processo que nos ocupará algum tempo mas que nos fará chegar a um documento comum, enraizado no pensamento e na vida, e que nos orientará no nosso compromisso, espiritualidade e visão comuns.

Este dia de encontro na Golegã foi um dos momentos do processo  que estamos a realizar em Portugal.

Para nos ajudar a aprofundar esta temática, a abrir-nos pistas de reflexão sobre o sentido de compromisso e as dimensões de espaço e de fronteira, convidámos o Padre José Frazão, actual provincial dos Jesuítas em Portugal, que se disponibilizou, no meio de todos os seus afazeres, a partilhar connosco a manhã.

Foi um contributo inestimável, profundo, estimulante, que nos abriu perspectivas novas e desafiadoras para o jeito de viver e “habitar de modo visível a nossa vida e a nossa fé”.

É difícil escolher o que partilhar convosco do muito a que fomos desafiadas. Vou ser breve e remeter-me para alguns dos aspectos que me iluminaram o pensamento permitindo-me ver e olhar de modo acrescido esta temática que andamos a trabalhar.

Começo por referir duas linhas fundamentais que orientaram a reflexão sustentando-se nos grandes mistérios da Trindade e da Encarnação.

“Só o Deus trio é fecundo. Desde sempre Deus é acto de se receber do outro, de gerar o Filho e de ser gerado, e com uma tal fecundidade, que gera o Espírito Santo. Assim, em Deus, há um espaço habitado sempre em acto de gerar. É um espaço e é fecundo. A relação dual é sempre destrutiva. Daí se nos coloca a  questão: como habitar este espaço?”

Com efeito, não se trata de uma questão de fácil resolução: “o outro, tanto pode ser aquele que me dá a vida como ser o meu concorrente. Importa estar consciente da finitude da vida e da relação, que tanto pode ser um custo como um dom, uma bênção como uma maldição. Podemos mesmo afirmar que a bênção de habitar o espaço supõe sempre um custo!”

Por outro lado, centrando-nos na Encarnação, “habitar o espaço liga-se à Terra”. “Na Encarnação Deus dá-se na contingência do tempo e do espaço. Anuncia uma Boa-Nova que é para todos os tempos, é Boa Nova para hoje, para 2014”. Impõe-se o desafio de construir uma” arte de habitar os espaços” que são os espaços de hoje. Isso exige uma “qualidade espiritual do modo como habitamos a nossa vida”.

Essa qualidade exprime-se, nomeadamente, no “simbólico, modo de habitar as coisas e os espaços. O símbolo é fundamental porque não precisa de ser explicado, realiza aquilo que significa”.

Habitar o espaço não é algo de simples mas é o que nos faz crescer, criar novos jeitos de sermos e de nos relacionarmos. Aliás, “a tensão é implícita ao   cristianismo. É implícita à própria Trindade, que é simultaneamente unidade e pluralidade”.

Foi tão rica esta reflexão e a troca que se seguiu (Obrigada, P. José Frazão!) que poderíamos assim continuar todo o dia. Mas os ritmos do dia obrigavam-nos a interromper para o almoço e continuar o trabalho partilhando os nossos próprios contributos.

Assim, à tarde, com base no texto “Abençoar o espaço entre nós” (em particular na parte I) e na procura de cruzar e acrescentar luz à nossa reflexão com as palavras trazidas pelo P. José Frazão, reunimo-nos por grupos durante um tempo ainda longo, terminando com a partilha entre todo o grupo presente.

Muitas ideias e perspectivas surgiram. Aliás, tudo foi registado e, nos grupos de pertença, havemos de ter acesso a essa reflexão para aí a continuar.

Sublinho só alguns de entre os muitos pontos partilhados.

Uma linha enunciada desafia-nos a olhar para a nossa experiência pessoal e colectiva no sentido de tomar consciência do modo como o Graal tem sido um espaço abençoado. De igual modo se sublinhou como o Graal, enquanto espaço internacional, haverá de ser cada vez mais um espaço que não anula nada nem ninguém mas, pelo contrário, nos convoca para “ser sempre mais”, fazendo corpo, comunidade… 

Numa outra vertente sublinho desafios que permanentemente se nos colocam: tornar o Graal em espaço onde cada vez mais havemos de ser construtoras de lugar que acolhe; estar atentas aos espaços – em particular nas fronteiras – que precisamos de abençoar; implicarmo-nos sempre mais intensamente em espaço de visibilidade de expressões de compromisso…

Foi igualmente acentuada a dimensão da experiência comunitária. Essa dimensão promove crescimento espiritual enquanto comunidade. E nesse contexto tornámos firme a convicção que a oração é espaço que nos trabalha em exigência e profundidade.

Através destas ideias e todas as outras que nos dissemos, em clima de grande abertura e desejo de crescermos e agirmos na fidelidade às nossas raízes mais fundas e aos desafios contemporâneos, termino com um contributo em que todas nos revimos: O Graal é, e pode ser cada vez mais e melhor, espaço gerador de vida, de beleza, de simplicidade, de compromisso, de alegria!

 

                                                                                                                Maria do Loreto