O Graal realizou nos dias 27 de Março de 2015 e 23 de Abril mais duas sessões do Terraço-em-Diálogo subordinadas ao tema A Arte Transforma? A primeira contou com a presença de um reconhecido painel de autores/artistas: Lídia Jorge, escritora, Luís Filipe Rocha, cineasta e Manuel San-Payo, pintor, que foram questionados por Isabel Allegro de Magalhães. Os intervenientes balançaram-se entre duas perspectivas: Sim, A arte transforma e Não, a arte não transforma. Por um lado, falou-se no poder transformador da arte – “…eu fui transformada pela arte”, reconhecendo-se o poder da poesia [como] “absolutamente avassalador”. Foi considerado que “a arte pode levar a uma fraternidade mais ampla do que a religião”, que “a arte pode tornar a natureza humana receptiva ao bem”.
Por outro lado, e paralelamente, afirmou-se que “a natureza humana mantém-se a mesma ao longo do tempo apesar da arte” – isto é, cheia de contradições, violência, ausência de solidariedade -, concluindo-se que “a arte não existe sem artistas e os artistas são apenas seres humanos” e, portanto, “há alturas em que a arte modifica e outras em que não modifica nada”.
Finalmente, foi lançada a questão: “quem é e o que é o artista?”. Afirmou-se a não certeza se a arte transforma ou não contudo, os três intervenientes concordaram que o artista transtorna. E, por conseguinte, “a arte transtorna“, desinquieta. Lídia Jorge, no final, afirmou, empunhando um dos seus livros: “Mas eu não posso viver sem escrever… isto!”, enquanto Luís Filipe Rocha desabafava: A Arte é a nossa melhor companheira, e Manuel San-Payo concluiu: Há alturas em que a Arte modifica e outras em que não modifica nada… e alguém da assembleia citou: Deus morreu, a arte morreu…e eu não me sinto lá muito bem!
O painel de Abril – “A Arte Transforma? – II” – contou com a presença de três jovens artistas: a cineasta Inês Gil, o compositor João Madureira e o escritor Jacinto Lucas Pires, questionados por Teresa Vasconcelos. Tal como em “A Arte Transforma? – I”, estes reconhecidos autores/artistas interrogaram-se entre si e o público presente sobre o papel da arte na criação de novas possibilidades para um mundo fechado num imediato descrente de saídas, menos disponível a horizontes desconhecidos, ao gesto solidário, ao transcendente. Insistiu-se na questão: A Arte Transforma?
Jacinto Lucas Pires começou por afirmar que a pergunta era uma ratoeira e questionou o que seria a transformação quer a nível pessoal, quer a nível colectivo… uma difícil resposta. Referiu que Lula Da Silva, quando foi Presidente do Brasil, criou um Ministério do Pensamento porque, no tempo em que vivemos, é crucial promover o pensamento e a estratégia. Afirmou que, para ele, individualmente, a vida nos propõe que nos tornemos o máximo de nós próprios, insistindo que, a este nível, podemos ser divinos. Jacinto Lucas Pires referiu ainda que através da escrita aprendemos a ser o Outro num movimento de des-centração.
Inês Gil apresentou um pequeno excerto de um filme de Vittorio de Sica e afirmou que a arte transforma se nos abrirmos à transformação, insistindo que podemos ou não estar abertos – exemplificando com a situação apresentada no filme sobre a experiência/o gesto de ser pedinte por alguém que nunca teve a necessidade de ser pedinte/de estender a mão – momento esse que descreve o pudor de quem tem de pedir… Insistiu na importância da relação entre “arte” e “ética”.
João Madureira começou por afirmar que a arte não é nenhum “truque”, e que a música é significado em construção, é uma narrativa mais do que uma interpretação. A arte aprofunda tanto o ser humano como a condição humana, a arte despoleta um processo. Interpelado por um/a dos participantes que afirmou não poder viver sem arte, João Madureira concluiu que não tem a certeza se podemos ou não viver sem arte mas que não podemos viver é sem amor… só o amor transforma.
No final, entre a assembleia, alguém acrescentou, citando: Os artistas são estetoscópios para medir a pulsação do mundo.
Teresa Vasconcelos,
pela equipa de pertença do Graal de Lisboa
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