“Vem e vê!” – Programa de intercâmbio do Graal internacional

“Vem e vê!” Muitas vezes, ao longo dos anos, o Graal tem usado esta expressão para dar a conhecer o Movimento, convidando mulheres a participarem quer como potenciais novos membros, quer como membros atuais de uma rede solidária alargada.

Este programa, de intercâmbio/voluntariado, promovido no contexto do Graal Internacional, tem como principais objetivos:

  • incentivar os membros do Graal (indivíduos ou pequenos grupos) a estabelecerem ligações com outros a nível internacional;
  • convidar mulheres para conhecer o Graal através de uma experiência de trabalho voluntário / intercâmbio;
  • conhecer e partilhar diferentes modos de vida;
  • aprender com os outros; adquirir novas perspetivas do Graal e da cultura de cada uma, e/ou, ter uma experiência de vida comunitária e intergeracional.

São oportunidades facilitadoras do crescimento pessoal, de aprendizagem, de formação no contexto de outra cultura e também um desafio para perceber o empenho e abertura necessários para viver numa cultura diferente.

É no contexto desta iniciativa que a jovem Inês Cabete estará por dois meses na Tânzania, numa ação de voluntariado. A Inês partilhou connosco um pouco do que tem sido esta sua experiência.

Para mais informações, contacte: graallisboa@gmail.com /Pessoa de referência: Lídia Martins

Por
 Inês Cabete

(1.ª voluntária portuguesa no projecto de voluntariado e intercâmbio internacional “Vem e vê!”)

«Olhar nos olhos de uma criança é ver mundos e pegar-lhes nas mãos pequeninas e empoeiradas é pegar em mil possibilidades. Com muito pouco tem-se tudo, é-se feliz!»

Aterrar pela primeira vez no Kilimanjaro é como aterrar em Marte e todas as leis da física formal parecem não se aplicar. Passado o equador, senti-me de facto de cabeça para baixo! A minha desorientação num mundo que ainda me é estranho desvanece-se nos braços abertos de quem aqui me acolhe e me ensina a cada dia novas formas de ser e de viver. Foi a vontade de descobrir e entender essas diferentes formas de ser e viver aleada ao desejo profundo de aprender outros modos de ser feliz que me guiaram a Kisekibah.

“Kisekibah”, qualquer descrição que se tente fazer ficará sempre aquém do que aqui se encontra. Ladeado por altos montes verdejantes e pavimentado por terra laranja onde altas árvores crescem, é uma cratera paradisíaca onde a pressa não existe, convidando à meditação. Diz, quem o viu de cima, que é uma pérola no meio das montanhas.

O centro é auto-sustentável com campos de cultivo e animais de quinta onde todos trabalham com dedicação e amor. Há um profundo respeito pela natureza a qual nos premeia diariamente com diversificados ingredientes para deliciosas refeições. Aqui aprende-se a viver em comunidade, faz-se o redescobrimento do eu e do eu com os outros, reaprende-se a ser.

À noite quando o vento acaricia as folhas das bananeiras a memória é conduzida ao som de chuvas fortes, entrecortado por uma orquestra de grilos, sapos e outros bichinhos que com primor encantam o serão, iluminados pelas estrelas cujo brilho intenso não encontra concorrência. De manhã quando o sol se ergue traz consigo o chilrear incessante dos passarinhos e também borboletas que pintam na atmosfera um quadro quase fauvista.

O Graal na Tanzânia tem um projecto junto da comunidade Maasai o qual tem em vista a erradicação de práticas que violam os direitos das mulheres numa tentativa de promover a igualdade de género. Muitas dessas práticas têm profundas raízes culturais e portanto o seu desaparecimento não é imediato. Através da educação de jovens, sobretudo meninas, procura-se a alteração comportamental paulatina de toda a comunidade. Com efeito, o Graal na Tanzânia tem um jardim de infância que acolhe mais de trinta crianças com idades entre os quatro e os seis anos. O meu trabalho desenvolve-se sobretudo junto delas, ensinando-lhes a ler, escrever e contar. Quase nenhuma fala inglês e algumas apenas falam línguas ou dialectos tribais, mas as barreiras linguísticas são quebradas por uma língua universal que ainda estou a aprender, a língua do amor. 

Olhar nos olhos de uma criança é ver mundos e pegar-lhes nas mãos pequeninas e empoeiradas é pegar em mil possibilidades. Com muito pouco tem-se tudo, é-se feliz! Se “somos eternamente responsáveis pelo que cativamos” então onde quer que esteja trarei comigo a responsabilidade de trinta sorrisos rasgados de trinta crianças e com cada uma delas deixo um pouco de mim