No passado dia 17 de setembro ganhámos asas e voamos até Düsseldorf para participar no Encontro Internacional do Graal na Alemanha, em Mülheim, que decorreu entre os dias 18 a 20 de setembro.
Este encontro teve como principal objetivo discutir a integração dos/as estrangeiros/as, tendo sido extremamente rico, permitindo a partilha de experiências, ideias e conhecimentos.
Tal como já é habitual no Graal, tivemos um caloroso acolhimento à chegada: fomos recebidas pela Christa Werner que nos foi esperar ao aeroporto e nos acompanhou até ao Centro do Graal em Mülheim.
Chegadas ao Centro, que foi a nossa casa durante os dias do encontro, conhecemos a Gerda Kaufmann e Silvana Ferraguti. Uma vez mais, confirmamos o sentimento que nos têm acompanhado ao longo desta Jornada: não importa em que continente, país ou cidade estamos, nos centros do Graal, sentimo-nos sempre em casa. A motivação, entrega, dedicação, e ambição por fazer sempre mais e melhor faz parte da genética Graal ultrapassando fronteiras e gerações.
No dia seguinte juntaram-se a nós a Paola (Graal Itália), a Karen e a Didine (Graal Bruxelas/Holanda). O Encontro começou com um momento de partilha alargado a algumas participantes do Graal na Alemanha que se juntaram ao grupo nessa tarde, onde foi possível partilhar algumas das nossas questões, experiências e preocupações relativamente à situação de imigrantes e refugiados/as.
Os dias 19 e 20 foram centrados no conhecimento do projeto “International Initiative Hochfeld (IIH)” em Duisburg, fundado pelo Graal na Alemanha em 1971, que atualmente ainda continua a integrar a sua coordenação. Este projeto constitui-se como um contributo social muito concreto no trabalho com mulheres imigrantes e as suas crianças ao nível do diálogo intereligioso e da sua integração social, escolar e profissional. A Iniciativa Internacional de Hochfeld começou por centrar-se, nos anos 70, ao apoio escolar a crianças italianas (apoio aos trabalhos de casa, interligação com os/as professores e com as mães e pais). Foi alargando à medida que as vagas de imigrantes de origens diferentes foram chegando. Atualmente tem como objetivo a capacitação para uma participação ativa na sociedade de mulheres e crianças, de diferentes culturas, nacionalidades e religiões que habitem a área de Hochfeld.
Na manhã de dia 19 de setembro começamos a nossa jornada pela visita à organização Solwodi (solidarity with women in distress). A Solwodi é uma organização financiada e reconhecida pelo governo alemão fundada em 1985. Trabalha com mulheres, raparigas e meninas imigrantes e/ou refugiadas vítimas de violência, exploração sexual e tráfico humano, procurando sensibilizar para a situação vulnerável das mulheres, raparigas e meninas imigrantes na Alemanha, capacitando e aconselhando estas para a compreensão e exercício dos seus direitos. Procura também combater o tráfico de mulheres e raparigas/meninas, os casamentos como negócio; integrar e apoiar mulheres requerentes de asilo vítimas de casamentos forçados, mutilação genital feminina, violações, tortura sexual.
Na intervenção da Solwodi destaca-se o trabalho de integração, logo que as mulheres estejam estabelecidas começa a formação na língua. É também se desenvolvido um trabalho financiado pelo ministério da saúde que promove a articulação entre terapeutas e especialistas médicos, bem como com assistentes sociais, para apoiar e intervir em situações de trauma, tendências suicidas, psicoses, depressões… identificadas nos processos de acompanhamento. Todos estes apoios contam com intérpretes em várias línguas. Um dos fatores que nos chamou a atenção na Solwoldi foi o fato das técnicas que falaram connosco serem ambas imigrantes complementarmente integradas na sociedade alemã, fator que pode ser motivador para as mulheres com as quais trabalham.
Depois desta visita à Solwodi seguiu-se a visita ao Centro Social de São Pedro. Pelo caminho cruzamo-nos com inúmeros rostos sofridos, cansados e desconfiados de homens e mulheres de traços e línguas muito diferentes que esperavam na fila para o apoio alimentar. Ficamos assim a saber que naquele imenso espaço existem também instalações de um banco alimentar que, serve por dia cerca de 80 a 100 pessoas, e de uma loja social, onde diversos artigos são vendidos a um valor simbólico.
Na parte do edifício (uma antiga igreja) onde funciona o Centro Social São Pedro, conhecemos a Irmã Martina que foi a nossa anfitriã. Mulher de sorriso largo e olhar profundo, daqueles olhares que conseguem captar o que parece invisível aos olhos. Levou-nos a conhecermos os espaços que compõem o Centro Social e mais importante que tudo as pessoas que lhe dão vida, as mulheres que procuram a integração e as equipas que com elas trabalham. Conhecemos também as crianças, filhas destas mulheres que, enquanto as suas mães estão nas aulas de línguas ou nos atendimentos para apoio e integração socioprofissional, frequentam “um espaço de crescimento” com técnicas de educação e animação e voluntárias. Uma vez mais, denotou-se uma boa prática que poderá ser extremamente útil na integração dos imigrantes. As professoras que ensinavam alemão eram todas de nacionalidade estrangeira, o que pode funcionar novamente com instrumento motivador e facilitador da aprendizagem.
A Irmã Martina referiu que este centro é um ponto de encontro para os e as habitantes de Duisburg-Hochfeld, onde já coexistem cerca de 100 nacionalidades. Os homens não estão excluídos aqui, mas o centro tem se especializado em trabalhar com mulheres e crianças, em virtude de articular de forma muito próxima com o gabinete da Solwodi. No Centro Social funciona também um grupo de culinária que se reúne uma vez por semana e um espaço de apoio aos pais e mães de crianças em idade escolar que disponibiliza também material escolar no início de cada ano escolar.
A nossa manhã terminou com um almoço turco oferecido pelo Centro Social de S.Pedro onde privamos um pouco mais da companhia da Irmã Martina que não só contribuiu para o alimento do corpo, mas sobretudo para o alimento da esperança, reforçando a convicção de que é possível um trabalho de crescimento intercultural e intereligioso e de integração efetiva que respeite e valorize cada pessoa.
Após o almoço fomos ao encontro da Carolina Robins, técnica da Iniciativa Internacional de Hochfeld que contextualizou a iniciativa de forma mais detalhada. Que nos referiu a existência de cerca de 200 000 imigrantes
provenientes de cerca de 100 nacionalidades diferentes, com destaque para imigrantes oriundos da Bulgária, Turquia, Polónia, Itália, Roménia, Síria, Afeganistão. Carolina Robins referiu que o trabalho que a equipa da Iniciativa Internacional e o grupo de voluntárias imigrantes desenvolve, centra-se em atividades tais como: apoio ao estudo, criação de espaços de convívio entre crianças de diferentes nacionalidades e línguas, programas de ocupação de tempos livres/férias, workshops, grupos de discussão e eventos de sensibilização/formação de temas específicos para mulheres, entre outras.
Terminamos esta tarde intensa com uma visita guiada à Igreja Salvator de Duisburb, a igreja da comunidade protestante da cidade. É um edifício com origem nos tempos medievais e reconstruído e ampliado nos seculos XII e XIII em estilo gótico. A história deste edifício magnífico está bem vincada pela grande destruição causada pelos bombardeamentos da segunda guerra mundial.
No dia 20, último dia do Encontro, fomos guiadas pela Silvanna até à Mesquita Merkez Cammii, a mesquita da área de Marxloh (freguesia). Aguardava-nos o padre Michael Kemper, da ordem de Charles Foucauld, grande apoiante deste projeto, e um dos responsáveis pela sensibilização da comunidade acerca importância desta “casa de Deus”. Tivemos a oportunidade de usufruir de uma visita guiada a esta mesquita, a maior da Alemanha, sendo um espaço onde predomina a abertura, o respeito, o acolhimento, o diálogo intereligioso e a interação cultural e social. Nesta comunidade muitas crianças Muçulmanas integram o jardim de infância Católico e, Católicos e Muçulmanos participam em eventos e festividades uns dos outros.
Este encontro foi inspirador e motivador, deixando-nos cheias de entusiasmo e vontade de abraçar novos desafios e atividades. É preciso quebrar as barreiras que causam a exclusão social, sendo indispensável criar medidas, programas e iniciativas o acolhimento e integração dos imigrantes e refugiados na sociedade portuguesa. Se é difícil? Sim, é! Mas o espirito Graal que já está enraizado em nós, diz-nos que nada é impossível quando há vontade e determinação.
Verónica Monteiro e Jú Bentes
Setembro 2016
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