No dia 1 de Dezembro de 2018, no Centro do Graal da Golegã, realizou-se um encontro que deu início ao tempo do Advento. Este encontro deu-se sob o título a Bondade sentar-se-á a meio – em tempo de Advento: a encarnação e o mundo, a promessa e a Esperança.
Num primeiro momento, saudámo-nos calorosamente entre beijos e abraços e com saudade reconhecemos que estes encontros nos fazem falta. A sala de acolhimento destes encontros, na casa mãe do Graal, na Golegã, tornou-se pequena entre as vozes, os gestos e os movimentos que expressavam a saudade, o desejo, a surpresa, a alegria do encontro.
Às 11:00h, demos início ao primeiro momento do dia com uma intervenção de Helena Marujo, docente e investigadora em Psicologia Positiva no ISCSP-UL, sob o tema Felicitas Publica a encarnação e o mundo, a promessa e a Esperança. A proposta é a de uma psicologia centrada nas experiências de felicidade na nossa vida e não nas experiências traumáticas. Depois de nos fazer compreender o conceito de Felicidade Pública, que era, de facto, uma prática na Antiguidade Clássica, mostrou-nos que esta se manifesta a partir de uma capacidade humana em potenciar as nossas virtudes num contexto relacional. A Fraternidade, uma das máximas saídas do ideal do Iluminismo, a par da Liberdade e da Igualdade, foi esquecida e é urgente ser recuperada porque o bem relacional é a própria relação, sem que esta seja instrumentalizada. Então, a felicidade não estará tanto na qualidade das nossas condições externas se não nas nossas condições internas, aquelas que se podem construir a partir da fé, da virtude, da gratidão e que nos levarão a construir a nossa felicidade a partir e para a felicidade do outro.
Foi, então, sob estas premissas que não nos deixaram indiferentes que nos congregámos para a refeição, momento por excelência de mediação dos encontros comunitários (Helena Marujo).
Às 14:30 vivemos de perto o que em Julho passado, de 16 a 28, se viveu em Moçambique a partir do relato exuberante e vívido da Elsa Nogueira sobre a sua participação e da Mónica Freitas no programa sobre liderança para jovens mulheres.
Este evento, que se poderá encontrar mais detalhadamente aqui, contou com a presença de onze países. Insidia sobretudo nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: igualdade de género, água e saneamento, alterações climáticas, educação de qualidade, fome e pobreza. Todos nos sentimos contagiados pelo seu entusiasmo quando nos diz que partilhamos muito. Este foi o tópico que mais me marcou e do qual mais sinto falta. A partilha entre todas, vindas de realidades completamente diferentes, foi o que mais me encantou. Fomos muito bem acolhidas e Moçambique deixa-nos muitas pessoas incríveis na memória e no coração.
Às 16:00h, contámos com uma intervenção da Maria Carlos a partir do tema Advento: preparar a casa, fazer caminho. A Maria Carlos partilhou connosco, na primeira pessoa, a sua participação no evento internacional do Parlamento das Religiões do Mundo que se reúne de cinco em cinco anos. Foi em Toronto, de 1 a 7 de Novembro, sob o tema The Promise of Inclusion. The Power of Love, e onde testemunhou como foi bom rezar com todos na perspetiva ecuménica de que as grandes perguntas são de todos os seres humanos.
Para finalizar o encontro, e porque a Bondade está no meio de nós, a leitura reflexiva de um texto do irmão Roger que nos fala de uma bondade que há em nós, como que uma qualidade ontológica que apenas necessita de ser puxada, magneticamente, para fora de nós para se tornar efetiva. E os nossos movimentos e as nossas ações convertem-se numa liturgia que propicia a oração e por ela, a Bondade habitará entre nós.
Dos textos que se leram e refletiram, cada um de nós escolheu uma frase que escreveu e pôs a germinar num pequeno vaso com sementes de trigo à maneira de uma tradição madeirense que nos ajuda neste Tempo de expectativa.
No final, leitura de um conto em tom de oração, intitulado A Magnanimidade (segue em baixo), que deixa antever a pedagogia amorosa de Deus e a escuta do Cântico Gregoriano Rorate fez-nos terminar o encontro desejando-nos a todos uma boa Espera, na Esperança.
Xana Lisboa
A Magnanimidade
Era uma menina indomável, diziam. Em casa muita coisa tentaram os seus diversos familiares – pai mãe, avós e tios.
Primeiro a mãe, e avó e as tias com reprimendas e castigos, depois os machos da família, mais ríspidos, usando a voz grossa e as mãos fortes. Todos haviam desistido.
Ela passou a viver em castigo permanente, em desprezo, num quartinho junto das instalações dos criados, e comia com estes, na cozinha.
Um dia a avó ouviu falar de um mestre perito em educação. Especialista, sobretudo, em resolver os casos difíceis.
Morava nas montanhas, e o pai, o avô e a menina demoravam vários dias a lá chegar, andando por córregos, a cavalo.
Encontraram o mestre, velho ainda vigoroso, de barba branca. Ele aceitou encarregar-se da menina. Sorriu-lhe. Pai e avô foram-se embora e ela ali ficou.
Nos primeiros dias apenas estudou os melhores disparates que poderia fazer. Depois praticou o primeiro.
O velho disse-lhe:
– O castigo que eu te dou é ficares sem jantar. Só castigo assim. Mas, para organizar a tua vida e a minha, deixaremos o castigo para o último dia do ano.
Vários outros disparates foi ela fazendo, o castigo foi sempre ficar sem jantar, e sempre os castigos foram adiados para o último dia do ano, que seria o dia do ajuste de contas, como dizia o velho.
Chegou esse último dia do ano, e a menina já estava castigada em cinquenta jantares. Disse-lhe o velho:
Hoje é o dia de cumprires os teus castigos. No entanto, como quero que tu aprendas a magnanimidade, desculpo-te um dos jantares. Jantarás comigo, e durante o serão não comerás os outros quarenta e nove jantares.
Isabel Barreno
APOIO
O website do Graal foi desenvolvido com o apoio financeiro do Programa Cidadãos Ativ@s.