Nos dias 8 e 9 de março, a Fundação Cuidar o Futuro promoveu, em Condeixa, algumas iniciativas no âmbito do projeto “Ouvir o Presente, Cuidar o Futuro: Homenagear Maria de Lourdes Pintasilgo”.
No dia 8, Dia Internacional da Mulher, realizou-se uma cerimónia invocativa e uma exposição sobre a “Vida e a Obra de Maria de Lourdes Pintasilgo”; no dia 9, decorreu uma “Audição Pública” inspirada na metodologia adotada nos anos 90 por Maria de Lourdes Pintasilgo para o “Relatório Cuidar o Futuro – um programa radical para viver melhor”.
As duas iniciativas tocaram duas facetas da personalidade de Maria de Lourdes: a faceta do seu pensamento, explanada na cerimónia invocativa onde se recordou a personalidade e a visão de uma mulher à frente do seu tempo; e uma faceta mais interventiva, mais humana, mais social, que esteve na base de todo o trabalho preparatório da Audição Pública.
Arriscaria a dizer, sem qualquer laivo de vaidade, que, se Maria de Lourdes estivesse viva, ficaria feliz com o trabalho realizado. Tendo em conta que o grupo que participou nas atividades era essencialmente constituído por mulheres- voluntárias com uma vida pessoal e profissional intensa, e que o tempo disponível ficou aquém do que era desejável, foi possível, mesmo assim, e graças a uma grande dose de trabalho e de boa vontade, dar voz àqueles que raramente se fazem ouvir, tomar o pulso ao concelho e dar a conhecer a realidade das populações.
Falou-se de ambiente e sustentabilidade, de educação, juventude, arte, do centro e das periferias de Condeixa. Muito foi dito e certamente que muito ficou por dizer. Mas mais do que isso, muito está por fazer. O conjunto de testemunhos apresentados permitiu-nos tomar consciência de que há muitos cidadãos conscientes da realidade que os rodeia, com ideias e soluções exequíveis, ávidos de mudança e capazes de dar o seu contributo para um mundo melhor. Ficou a sensação de que apenas esperam uma ação conjunta que lhes dê a força e a coragem para avançar e fazer a diferença. Esperemos que a Audição Pública possa ter sido o móbil despoletador dessa iniciativa cidadã!
Apesar das condicionantes inerentes ao trabalho de voluntariado, vivemos momentos de grande entrega, sobretudo no contacto com a população. Foi um trabalho de campo intenso, apaixonante, enriquecedor!
Ao longo destes meses, sentimo-nos imbuídas do primitivo espírito do Graal, aquele que levou gerações de mulheres a dedicarem-se a uma causa, indo para locais onde a sua ação poderia fazer a diferença, indo ao encontro do seu semelhante para ouvir as suas histórias, sentir as suas dores, partilhar os seus sonhos, criar soluções… Sentimos muito presente este espírito de missão, de entrega, de escuta amorosa e atenta que nos encheu a alma e que deixou sementes. Cabe-nos, agora, pegar nelas e proporcionar-lhes terreno fértil, rodeá-las de cuidados e carinho para que possam germinar e dar os seus frutos.
Esta seria, sem dúvida, a melhor homenagem que poderíamos fazer a Maria de Lourdes Pintasilgo: disseminar o seu legado, sim, mas sem nos ficarmos apenas pelo estudo do seu pensamento. É preciso operacionalizá-lo, torná-lo realidade, marterializá-lo. O mundo cada vez mais o exige!
Nunca, como agora, foi tão importante agir. Nunca, como agora, é tão urgente cuidar do Futuro!
Helena Reis (texto)
Lina Cláudia e Carlos Ribeiro (fotos)
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