Quaresma 2021

Nada se esvai; tudo se passa de monte em monte, de mão em mão, ouvindo-se. Como se o reverso da história me chegasse numa dobra, e eu o visse a entreabrir-se ligeiramente.

Propomos, ao longo das semanas da Quaresma, a escuta do que passa sem se esvair. Neste tempo favorável, escutemos a Palavra e as palavras que alimentam o nosso desejo de Páscoa, de Vida Nova.

Veremos, deste modo, entreabrir-se um horizonte de sentido para o que experimentamos.

Silêncio

J.S.Bach – ‘Erbarme dich, mein Gott’ (Tem compaixão, meu Deus). Área da ‘Paixão segundo S. Mateus’ (BWV 244).

 

SALMO 50 (3-6. 18-19 adapt.)

ANT.: Aceitai, meu Deus, os nossos corações arrependidos

Compadecei-vos de mim, meu Deus, pela vossa bondade

Pela vossa grande misericórdia, apagai as minhas faltas

Lavai-me de toda a maldade

E purificai-me de todas as culpas

Porque eu conheço os meus desvios

E diante de Vós deponho as minhas culpas

Não são sacrifícios que vos agradam

Mas um coração arrependido não recusais

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

Assim como era no princípio, agora e sempre.

AMEN.

 

ANT.: Aceitai, meu Deus, os nossos corações arrependidos

 

LEITURA, do Profeta Isaías (Is 58, 1-9 adapt.)

Eis o que diz o nosso Deus: “Clama em altos brados sem cessar, ergue a tua voz como trombeta. Todos os dias me procuram e desejam conhecer os meus caminhos, como se fosse um povo que procura a justiça. […] querem que Deus esteja perto de si e dizem: ‘De que nos serve jejuar, e fazer penitência, se vós, meu Deus, não prestais atenção?’ Porque nos dias de jejum correis para os vossos interesses e oprimis os mais frágeis. Jejuais, sim, mas no meio de contendas e discussões, sem atender ao vosso próximo. Não é esse jejum que espero.

Não será antes este, o jejum que me agrada? Quebrar as cadeias injustas, desatar os laços de servidão, dar liberdade os oprimidos, destruir toda a espécie de jugo? Não será repartir o pão com o que tem fome, dar abrigo aos pobres sem abrigo, levar roupa aos que não têm que vestir e não virar as costas ao teu semelhante?

Então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não tardarão a sarar. Preceder-te-á a justiça e seguir-te-á a glória de Deus. Então, se chamares, Deus responderá. Se o invocares, dir-te-á: ‘Estou aqui’.”

Lectio divina: identificar uma palavra, uma passagem, e meditar profundamente sobre ela.

 

REFLEXÃO, de Jean-Yves Leloup

(2020. Métanoïa. Une révolution silencieuse. Paris: Éditions Albin-Michel, 24-25.)

Que significa caminhar mais lentamente sobre a terra?

É estar-se atento ao pé e ao caminho, é identificar-se com o caminho, é ser o próprio caminho, com humildade, sem o um ‘eu’ separado do caminho, que pisa e julga o que o rodeia.

O que é olhar mais lentamente?

É estar-se atento ao que vemos, ao modo como se olha; é ver os seus olhos e a paisagem ao mesmo tempo, olhar para dentro e para fora ao mesmo tempo, humildemente, ver as coisas tal e qual são, sem as julgar, sem projeção; quem somos nós para decretar: “Isto é belo, isto é feio”?

O que é falar mais devagar?

É dar atenção ao que dizemos, e também escutar a Voz que nos fala dentro de nós, e o nível de consciência nos fala, atentando no plano do Real que através dela se expressa. Humildemente, deixar falar o Logos, a Palavra criadora e compassiva. Também à escrita isso se pode aplicar-se: Quem escreve? Para quê? Para quem? Será que essa palavra é necessária, ou apenas conversa? Será a Consciência e o Amor o que nos leva a escrever?

O que é pensar de modo mais lento?

É estar atento aos seus próprios pensamentos, ao seu surgimento e desaparecimento, ao estado emotivo ou afetivo que em nós induzem esses pensamentos, alegrias, tristezas, nostalgias, energias; humildemente, observar como orientamos tão pouco esse vaivém, esse fluxo. Com gratidão, acolhê-los como ornamentos do silêncio e, lentamente, acalmá-los. Ficarão então só os pensamentos necessários à lucidez e ao louvor.

O que é amar mais devagar?

É prestar atenção às nossas emoções, aos nossos sentimentos, sem forçar nada, manter sem prender, nada querer ou esperar do outro, e dar-lhe com humildade – sem acrescentar nem retirar nada, aquilo que se é a cada instante. Acolher, deixar vir o que vem, não ter projeto ou ideia clara sobre o que deveria vir, espantar-se, maravilhar-se por existir, em conjunto, sem inflação nem desmedida, sem exaltação, e celebrar o instante.

E o que é rezar lentamente?

É estar atento ao nosso coração, à sua abertura, à sua disponibilidade, mais do que aos pensamentos e palavras da nossa oração. É estar, lentamente, no Aberto, em adoração e ação de graças. Nessa abertura, a Vida grande e eterna, a Consciência infinita, o Amor incondicional, podem expandir-se para o bem-estar de tudo e de todas as pessoas.

 

ORAÇÃO FINAL

Meu Deus,

que saibamos, durante esta Quaresma, despertar em nós uma consciência mais atenta, à realidade do mundo e à nossa presença ao Invisível em nós.

Que saibamos cuidar de quem mais precisa e discernir a Luz Invisível, mas aqui presente.

Ensinai-nos – no silêncio e por dentro do ruído do mundo – a escutar vossa Presença.

Por Jesus Cristo, nós aqui vo-lo pedimos.

AMEN.

 

 

 

SILÊNCIO
respiração lenta : atenção silenciosa, luminosa, inteira,
ao Sopro que ESTÁ e penetra o nosso próprio sopro

MÚSICA – “Stabat Mater” – Pergolesi

 

 

 

 

LEITURA do Evangelho de S. Marcos (Mc 9, 2-10)

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles a um lugar retirado num alto monte e transfigurou-se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia assim branquear. Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés , outra para Elias.”
Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados. Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e da nuvem fez-se ouvir uma voz: “ este é o meu filho muito amado: escutai-o.” de repente, olhando em redor, não viram mais ninguém a não ser jesus, sozinho com eles.
Ao descerem do monte, jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, enquanto o filho do homem não ressuscitasse dos mortos, Eles guardaram a recomendação, mas perguntavam entre si o que seria ressuscitar dos mortos.

SALMO 41 (42), 1-4;6,7,9 (adapt.)

ANT.: Diz-me o coração: ‘Procurai a face de Deus.’ A vossa face, meu Deus eu procuro; não escondais de mim o vosso rosto.

Como o veado procura as correntes de água,
assim a minha alma vos procura a Vós, meu Deus.

Tenho sede de Deus,
sede do Deus vivo.

Quando poderei entrar,
e ficar diante de sua face?

Porquê encolher-te, ó minha alma,
e gemer dentro de mim ? Espera em Deus!

Sim, celebrá-lo-ei de novo,
a si que nos salva, e ao seu rosto.

De dia, Deus mostrava a sua fidelidade;
de noite, cantava e rezava a Deus,
a Deus que é a minha vida.

ANT.: Diz-me o coração: ‘Procurai a face de Deus.’ A vossa face, meu Deus eu procuro; não escondais de mim o vosso rosto.

 

REFLEXÃO – Jean-Yves Leloup (adapt.)

Tendo subido à montanha com Jesus, Pedro, Tiago e João puderam ver a sua Transfiguração e experienciar a revelação de Deus. Uma experiência tão forte, que eles queriam permanecer ali mesmo.
Como eles, também nós queremos ver “Eu sou”, o Ser que é, o Ser que passa por nós.
Para isso será preciso dar um passo mais para o alto, subir à montanha; encontrar a nossa própria montanha.
Segundo a Tradição, esse é o método que nos eleva para lá do quotidiano, mais além do que é mental, para lá dos pensamentos. E assim poderemos aproximar-nos d’ Aquele que nos vê, d’ Aquele que nos faz ser, e nos convida a descer à nossa própria casa, abrindo as portas a fim de nos tornarmos justiça, acolhimento, generosidade. (Lc 19, 1-10).
Mas o que há para lá do só mental, para lá dos inúmeros pensamentos que nos invadem? Há o Silêncio, a pura Consciência, o Espírito de Deus. […]
O passo mais além que nos é pedido é um passo para lá dos pensamentos com os quais nos identificamos. É passar do nível mental, dos pensamentos que o constituem, à Consciência não identificada com pensamentos, tal como o céu não pode confundir-se com as nuvens, nem com o bom ou mau tempo que o atravessam.

ORAÇÃO FINAL

Meu Deus, que nos revelastes em Jesus transfigurado o Horizonte luminoso a que nos chamais, durante o tempo favorável desta Quaresma, fazei que o nosso desejo de vos procurar e de caminhar para Vós nos conduza nestes tempos de confinamento.
Que saibamos aproveitar estes limites e a maior solidão em que vivemos, para nos abrirmos à vossa presença. Nós vo-lo pedimos por Jesus Cristo. AMEN.

 

 

SILÊNCIO:

                             escutando o Espírito

 

 

MÚSICA – “Área”. Suite nº3. J.S. Bach

 

I LEITURA – P. José Frazão sj.

[…] Reaprender a professar a confiança elementar na vida, bendizendo a sua graça e atravessando com esperança o seu custo, sem rendição nem alienação, torna-se um dever de humanidade. E um dever de crentes. Sim, porque a fé cristã não é menos do que ato elementar de confiança na vida, no seu sabor, na sua bondade, nas suas promessas. A profissão de fé em Deus está muito próxima da declaração de amor à vida.

 

SALMO 129 (130)

 

ANT.: Confia em Deus, Ele é Amor

Cantado: Taizé

 

Das profundezas clamo a ti, meu Deus;

ouve, ó Deus, a minha voz.

 

Estejam atentos os teus ouvidos

às minhas súplicas

 

Se tu, meu Deus,

registasses os pecados, quem escaparia ?

Mas contigo está o perdão

para que sejas temido.

 

Espero em Deus com todo o meu ser

e na sua palavra ponho a minha esperança.

 

Espero em Deus

mais do que as sentinelas pela aurora;

 

Sim, mais do que as sentinelas

esperam a manhã

 

Põe a tua esperança em Deus, ó Israel,

pois em Deus no há total amor

e plena redenção

 

O próprio Deus redimirá Israel

de todas as suas culpas

 

Glória ao Pai. Ao Filho e Espírito Santo,

como era no princípio, agora e para sempre. Ámen.

 

ANT.: Confia em Deus, Ele é Amor.

 

II LEITURA – D. José Tolentino

O amor é o caminho que nos leva à esperança. E esta não é uma espécie de consolação, enquanto se esperam dias melhores. Nem é sobretudo expectativa do que virá. Esperar não significa projetar-se num futuro hipotético, mas saber colher o invisível no visível, o inaudível no audível, e por aí fora. Descobrir uma dimensão outra dentro e além desta realidade concreta que nos é dada como presente. Todos os nossos sentidos são implicados para acolher, com espanto e sobressalto, a promessa que vem, não apenas num tempo indefinido futuro, mas já hoje, a cada momento. A esperança mantém-nos vivos. Não nos permite viver macerados pelo desânimo, absorvidos pela desilusão, derrubados pelas forças da morte. Compreender que a esperança floresce no instante é experimentar o perfume do eterno.

 

ORAÇÃO FINAL

Meu Deus, abraçar a Vossa cruz é abraçar as contrariedades atuais, é abandonar a ânsia de omnipotência para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. […]

Na sua cruz fomos salvos para acolher a esperança. Abracemos a Cruz para abraçarmos a esperança. Aí, está a força da fé que liberta do medo e dá esperança.

[…] Meu Deus, abençoai o mundo, dai saúde aos corpos e conforto aos corações. Assim seja.

Silêncio contemplativo

MÚSICA – “Prayer for healing“ (Brad Mehldau)

I Leitura do Profeta Oseias (Os 6, 1-6)
Venham, voltemos para o Senhor. Ele nos feriu, Ele nos trará a cura; Ele sarará nossas feridas.
Ao fim de dois dias ele nos dará vida novamente; ao terceiro dia nos restaurará, para que vivamos em sua presença.
Procuremos conhecer o Senhor; esforcemo-nos por conhecê-lo. Tão certo como nasce o sol, ele aparecerá; virá para nós como as chuvas de inverno, como as chuvas de primavera que regam a terra.
[…] O seu amor é como a neblina da manhã, como o orvalho da madrugada que logo se evapora.
[…] O meu direito permanece como a luz. Pois desejo misericórdia e não sacrifícios, o conhecimento de Deus em vez de holocaustos.

II LEITURA do Papa Francisco (Mensagem de Quaresma (excertos))

A caridade alegra-se ao ver o outro crescer; e de igual modo sofre quando o encontra na angústia: sozinho, doente, sem abrigo, desprezado, necessitado… A caridade é o impulso do coração que nos faz sair de nós mesmos gerando o vínculo da partilha e da comunhão.

«A partir do “amor social”, é possível avançar para uma civilização do amor a que todos nos podemos sentir chamados. Com o seu dinamismo universal, a caridade pode construir um mundo novo, porque não é um sentimento estéril, mas o modo melhor de alcançar vias eficazes de desenvolvimento para todos» (FT, 183).

A caridade é dom que dá sentido à nossa vida e graças ao qual consideramos quem se encontra na privação como membro da nossa própria família, um amigo, um irmão. O pouco, se partilhado com amor, nunca acaba, mas transforma-se em reserva de vida e felicidade. Aconteceu assim com a farinha e o azeite da viúva de Sarepta, que oferece ao profeta Elias o bocado de pão que tinha (cf. 1 Rs 17, 7-16), e com os pães que Jesus abençoa, parte e dá aos discípulos para que os distribuam à multidão (cf. Mc 6, 30-44). O mesmo sucede com a nossa esmola, seja ela pequena ou grande, oferecida com alegria e simplicidade.

Viver uma Quaresma de caridade significa cuidar de quem se encontra em condições de sofrimento, abandono ou angústia por causa da pandemia de Covid19. Neste contexto de grande incerteza quanto ao futuro, lembrando-nos da palavra que Deus dera ao seu Servo – «não temas, porque Eu te resgatei» (Is 43, 1) –, ofereçamos, juntamente com a nossa obra de caridade, uma palavra de confiança e façamos sentir ao outro que Deus o ama como um filho.

«Só com um olhar cujo horizonte esteja transformado pela caridade, levando-nos a perceber a dignidade do outro, é que os pobres são reconhecidos e apreciados na sua dignidade imensa, respeitados no seu estilo próprio e cultura e, por conseguinte, verdadeiramente integrados na sociedade.» (FT, 187).

SILÊNCIO________________

PARTILHA

ORAÇÃO – Livro de Orações. Gregório de Narek (944-1010)
Houve um tempo em que eu não estava presente, e Tu criaste-me.
Eu não tinha ainda vindo à luz, e no entanto viste-me.
Eu não Te tinha invocado, e no entanto tomaste-me a Teu cuidado.
Eu não Te tinha feito qualquer sinal, e no entanto olhaste para mim.
Eu não te tinha dirigido qualquer súplica, e no entanto tiveste misericórdia comigo.
Eu não tinha articulado o mínimo som, e no entanto ouviste-me.
[…]
Meu Deus,
Sou agora este ser que Tu criaste,
Que salvaste,
Que foi alvo de tanta solicitude!
Inclina-Te, ó Misericordioso único, sobre mim,
Esta pobre árvore que pensa que caiu.
A mim, que estou seco, faz-me reflorir
Em beleza e esplendor, segundo as palavras divinas do santo profeta (Ez 17, 22-24)
Digna-te lançar sobre mim um olhar
Vindo da solicitude do Teu indizível amor […]
E do nada criarás em mim a própria luz (cf. Gen 1, 3).
Amen.

 

 


SILÊNCIO

ORAÇÃO INICIAL

Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim

Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim

 

Música – Mystical Christian Jesus Prayer (russian) – Prayer of the Heart – Noetic Prayer

 

Para os cristãos eslavos, os ícones não são pintados mas escritos. Várias razões os movem a esta afirmação, mas a principal é a seguinte: a Palavra de Deus, encarnada na pessoa de Jesus Cristo, já não se pode limitar a uma escritura sem forma humana. A palavra é pessoalmente visível nos ícones. E os ícones não são fotografias! São janelas para a mesma Escritura que lhes dá alma e ser profundo.

(P. Miguel Pedro Melo, sj, Dostoievsky. “À pessoa desconhecida”. In Ponto SJ, 12 Março 2021.)

 

 

 



I LEITURA – Carlos Maria Antunes

Fazer memória é voltar de novo, em cada dia, ao nosso lugar de origem; é viver na constante relação com a raiz.

Quando contemplamos a beleza de uma árvore nem sempre nos lembramos que o seu segredo está guardado nas suas raízes. Tem uma história que a fez erguer-se, que a tornou majestosa, mas se permaneceu, se cresceu, se resistiu às intempéries da vida, é porque as suas raízes se foram aprofundando. Cresceu em altura, mas também cresceu em profundidade. Há um mistério oculto que acompanha a sua vida, e todas as vidas. O sentido sagrado da existência, vivida no quotidiano, advém daqui. Quanto mais nos adentramos nas nossas raízes tanto mais somos dom, beleza, vida para a vida do mundo.

 

II LEITURA – Evangelho de S. João (Jo 8, 1-11)

Jesus foi para o Monte das Oliveiras. Mas, ao amanhecer, foi de novo ao templo, e todo o povo ia ter com Ele. E, tendo-se sentado, ensinava-os. Então os doutores da lei e os fariseus levaram uma mulher apanhada em adultério e, colocando-a no meio, disseram-lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. Na Lei, Moisés ordenou-nos apedrejar tais mulheres. Ora, Tu que dizes?». Diziam isto para o pôr à prova e para que tivessem com que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, pôs-se a escrever com o dedo na terra. Como insistiam em interrogá-lo, levantou-se e disse-lhes: «Aquele que de vós está sem pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra». E, inclinando-se de novo, continuou a escrever na terra. Eles, ao ouvirem isto, foram saindo, um após outro, a começar pelos mais velhos; e Jesus foi deixado só, continuando a mulher no meio. Jesus levantou-se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Nenhum te condenou?». Ela disse: «Nenhum, Senhor». Disse-lhe Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai, e a partir de agora não peques mais».

 

SALMO (22 [23], 1-3. 5-6)

ANT.: Ainda que passe por vales tenebrosos, nada temo, porque vós estais comigo.

 

Deus é o meu pastor: nada me faltará.

Leva-me a descansar em verdes prados,

Conduz-me às águas refrescantes

e reconforta a minha alma.

 

Deus me guia por sendas direitas,

por amor do seu nome.

Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos

não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo.

 

Para mim preparais a mesa,

como para todos os que o desejam;

com óleo me perfumais a cabeça

e o meu cálice transborda.

 

A bondade e a graça hão-de acompanhar-me

todos os dias da minha vida,

e habitarei na casa de Deus,

para todo o sempre.

 

ANT.: Ainda que passe por vales tenebrosos, nada temo, porque vós estais comigo.

 

 

SILÊNCIO

PARTILHA

 

 

ORAÇÃO FINAL

Meu Deus, tende piedade

Cristo, tende piedade

Meu Deus, tende piedade:

 

Música – Mystical Christian Jesus Prayer (russian) – Prayer of the Heart – Noetic Prayer

 

Silêncio

Música – Chant Cistercien

no deserto cuidar
que alguma flor
persista

Ana Luisa Amaral (“De um Deserto Comum – e Alguma Flor”, In: Mulher das Cidades Futuras, p.32)

 

 

I Leitura do Papa Francisco (In: Sonhemos Juntos, pp. 23; 29)
A regeneração da sociedade humana implicou voltar a respeitar os limites, a travar a corrida pela riqueza e pelo poder, a cuidar daqueles que vivem na periferia.
O que o Senhor nos pede hoje é uma cultura de serviço e não uma cultura de descarte. Mas não podemos servir os outros se não deixarmos que a sua realidade nos afete.
Nestes tempos difíceis, dão me esperança as últimas palavras de Jesus no Evangelho de Mateus: «Eu estarei convosco todos os dias até ao fim do mundo» (MT 28.20). Não estamos sós.
Quando enfrentamos opções e contradições, perguntarmo-nos qual é a vontade de Deus, ajuda a abrirmo-nos a possibilidades inesperadas. Refiro-me a estas novas possibilidades como um «transvazar», porque frequentemente as margens do nosso pensamento transbordam. O «transvazar» acontece quando, com humildade, apresentamos a Deus o desafio que enfrentamos e lhe pedimos a sua ajuda. Chamamos a isto o «discernimento de espíritos» porque se trata de distinguir o que verdadeiramente é de Deus e o que procura frustrar a sua vontade.

 

II Leitura do Evangelho de São João (Jo 12, 1-11)
Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde vivia Lázaro que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Ora, fizeram-lhe ali uma ceia; Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Jesus. Então Maria, tomando uma libra de perfume de nardo puro, muito caro, ungiu os pés de Jesus e, com os seus cabelos, secou-lhe os pés. A casa encheu-se com o perfume do bálsamo. Disse Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, o que estava prestes a entregá-lo: «Por que razão não se vendeu este perfume por trezentos denários para dar aos pobres?». Disse isto, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa do dinheiro, tirava o que se ia depositando. Disse, então, Jesus: «Deixai-a em paz: ela tinha guardado o perfume para o dia da minha sepultura. Pois pobres sempre os tereis convosco, mas a mim nem sempre me tereis». Entretanto, uma numerosa multidão de judeus soube que Ele estava ali e veio, não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes resolveram matar também Lázaro, porque, por sua causa, muitos se afastavam dos judeus e acreditavam em Jesus.

 


SALMO (26 [27], 1. 13-14)

ANT.: O Senhor é a minha luz e a minha salvação

O Senhor é a minha luz e a minha salvação:
a quem hei-de temer?
O Senhor é protector da minha vida;
de quem hei de ter medo?

Ainda que um exército me vier cercar,
o meu coração não temerá.
Se contra mim travarem batalha,
Mesmo assim terei confiança.

Espero vir a contemplar a bondade do Senhor
na terra dos vivos.
Confia no Senhor, sê forte.
Tem coragem e confia no Senhor.

ANT.: O Senhor é a minha luz e a minha salvação

 

Silêncio

Partilha

 


Oração final com Huub Oosterhuis (In: Kom mij bevrijden (Vem libertar-me)).

Ouve-me

O que eu queria
o que eu fiz
o que foi feito para mim
o que eu fiz de errado

o que não foi dito
o que permaneceu indiferente
o que não era conhecido
o que permaneceu inutilizado

tudo o que é vergonhoso
tira isso de mim

e que eu era isso
e nenhum outro…

esse excedente de
pó da terra:
foi isto o meu amor.

Aqui estou.


Música – Chant Cistercien