Advento num tempo sem noite e, por isso, sem luz.

Há a luz que nos furta a noite, iluminação a subtrair-nos o medo ancestral do que infinitamente se afunda, escuro, sobre as nossas cabeças. Estudos confirmam que, em virtude disso, perdemos visão, já não temos olhos que vejam nessa escuridão. Tudo está saturado de luz, os espaços, as coisas. Também a nossa imagem, a nossas vidas, iluminadas e sem sombra: tudo, caleidoscopicamente clonado, circula, imaterial e brilhante, nos écrans, em gigabytes, terabytes, velocidades cada vez mais inconcebíveis para quem caminho, demora e espera tendem a tornar-se ideias abstratas, úteis numa qualquer retórica de resistência (romântica – haverá quem o diga, porque “a vida não se compadece”). Tudo pornograficamente exposto, mais veloz do que a luz.

Mas a ansiedade e o desejo, esses permanecem; e é por onde a luz pode entrar.

There is a crack in everything, that’s how the light gets in.* (Leonard Cohen)
*Em tudo há uma falha; é assim que a luz entra.
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Fotografia de Isaura Feiteira

Propomos, nas quatro semanas do Advento, momentos de demora, isto é, em que nos permitamos demorar e saborear a espera, ao ritmo da Palavra e do silêncio, com os olhos na luz transfigurada pelos vitrais da Alice Fernandes.

Assim caminharemos e caminhará quem a nós se juntar, desejando e esperando Jesus, enquanto, no meio do ruído, murmuramos “na tua luz vemos a luz” (Salmos 36:9)

Obrigada à dupla Teresa Castro e Alice Fernandes, que nos guiarão. 

(As propostas serão publicadas em cada Domingo do Advento.)