O Senhor está perto dos corações contritos e salva os espíritos abatidos.
Salmo 34, 19
Por Svetlana Poliakova
É de penitência o tempo,
e a Ti, meu Oleiro, acorro:
do pecado que me pesa
o gravame me alivia,
e minhas quedas releva,
por Tua filantropia.*
Com estas palavras de Santo André, arcebispo de Creta e hinógrafo que viveu entre 660 e 740, começa a viagem pela Quaresma nas igrejas do Leste da Europa. A sua voz encontra-se, nas orações quaresmais, com as vozes de cristãos de todas as confissões. E é a mesma evocação de penitência que se reflete nos ensinamentos de todas as comunidades religiosas fundamentadas na fé em Deus, que nos ensina o amor.
Encontramos um exemplo disso mesmo no filme “Don’t Judge” (não julgues), nomeado para Short Film Award em 2020 (SOFIE). Elvis Naçi, o realizador, é sacerdote da Comunidade Islâmica da Albânia, reconhecido pelo seu trabalho humanitário.
Esta curta-metragem (de 4 minutos) não precisa de palavras ou de legendas para nos comover profundamente e reavivar o sentido de penitência nas nossas vidas. Um menino da escola primária e o seu professor mostram-nos a beleza da dedicação permanente ao próximo. Mesmo quando causa sofrimento, prevalece o poder da humildade, que permite reconhecer erros, pedir perdão e aceitar “uma troca de papéis” entre aluno e professor.
*Tradução de Luís Filipe Thomaz – hieromonge Jerónimo.
Longo tempo o conquistou no contemplar.
Estrelas caíam de joelhos em luta.
Ou era ele que ajoelhado contemplava,
e o perfume da sua instância
cansava um imortal até
que ele lhe sorria do seu sono.
Olhava as torres de tal modo
que elas se assustavam:
erguendo-as de novo, ao alto, de repente, num momento!
Mas quantas vezes a paisagem,
sobrecarregada do dia,
vinha deitar-se e repousar no seu calmo contemplar, ao anoitecer.
Animais entravam confiados
no seu olhar aberto, a pastar,
e os leões cativos
fitavam por ele dentro como pra uma liberdade inconcebível;
aves atravessavam-no, voando a direito,
a ele benigno; flores
reviam-se nele,
grandes, como em crianças.
E o boato de que havia um que via,
movia as que eram menos
e mais duvidosamente visíveis,
movia as mulheres.
A contemplar, quanto tempo?
Há quanto já a íntima carência,
suplicante no fundo do olhar?
(…)
Porque, olha, há limites para o ver.
E o mundo mais contemplado
quer medrar no amor.
Obra do ver está já feita,
faze agora do coração
nas imagens dentro de ti, presas em ti; pois tu
Subjugaste-as: mas agora não as conheces.
vê, homem de dentro, a tua amada de dentro, que conquistaste
de mil naturezas, agora
apenas conquistada, nunca
ainda amada criatura.