Vivemos um tempo de corpos cansados, a manifestar a ansiedade resultante das múltiplas tarefas que, quantas vezes, paradas diante de écrans, executamos. Os nossos corpos ressentem-se igualmente da saturação de informações fragmentadas. Trata-se de uma verdadeira violência neuronal que ilude o tempo e o espaço e, por isso, nos abstrai do corpo. Sentir o corpo é, hoje, uma forma de resistência, muito bem explorada, aliás, pela sociedade de consumo. Nas nossas sociedades ocidentais, surge, assim, uma enorme quantidade de propostas, uma verdadeira indústria reabilitadora do corpo, serviços e produtos que tornam os nossos corpos, eles mesmos, um produto que se quer saudável, higienizado e tonificado. Não temos dúvida de que há que resgatar os nossos sentidos e o poder de expressão dos nossos corpos.

Assumindo que não há “nem hierarquia, nem rutura entre corpo e espírito” (M. G. Llansol), como pensar a relação entre o corpo e o movimento do Espírito, que impulsiona gestos e revela o alcance do que os nossos sentidos percecionam?