Esperamos e sonhamos o Natal do Mundo, razão por que nasceu Jesus, encarnando criativamente a História da nossa humanidade.
“Ao mesmo tempo, se se quer conseguir mudanças profundas, é preciso ter presente que os modelos do pensamento influem realmente nos comportamentos. A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis, se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza. Caso contrário, continuará a perdurar o modelo consumista, transmitido pelos meios de comunicação social e através dos mecanismos eficazes do mercado.”
– Papa Francisco (Laudato Si – 215)
O Heitor Carvalho fala-nos das eco-aldeias e das comunidades intencionais como sementes de regeneração, Natal do mundo!
Vivemos num tempo de profunda mudança à escala planetária, em que as histórias que aprendemos sobre quem somos e sobre o nosso lugar no mundo simplesmente já não funcionam. A narrativa individualista ocidental de consumo e exploração esgotou-se, deixando um vazio existencial que muitos de nós sentimos como uma dor profunda – uma meta-crise de sentido. Parece-me que não estamos diante de nada menos do que uma profunda mudança de paradigma, em que somos convidados a reinventar as narrativas fundamentais que informam a nossa relação com a Terra, connosco próprios e uns com os outros.
Recentemente, como voluntário na GEN Europe General Assembly (Assembleia Geral da Rede Global de Eco-Aldeias na Europa), em Ängsbacka (Suécia), descobri nas comunidades intencionais e eco-aldeias regenerativas uma luz de esperança visível e concreta. Uma eco-aldeia não é apenas um lugar, mas um laboratório vivo de experimentação de vida em conjunto. São comunidades que redesenham padrões de vida que pretendem ser ecologicamente sustentáveis e socialmente equilibradas, procurando criar estilos de vida de alta qualidade com o mínimo impacto ambiental possível. Aí se experimentam novos modelos de organizar o fluxo de recursos, as tarefas e as responsabilidades, para que todos tenham acesso ao solo fértil e possam expressar o seu potencial criativo. Enfatiza-se educação não-formal, a consciência ecológica e a agricultura regenerativa, com um foco em restaurar ecossistemas, reaprendendo antigas sabedorias indígenas de reciprocidade com a Terra.
O movimento de transição, conectado globalmente através da Global Ecovillage Network demonstra que já existem milhares de comunidades em todo o mundo redesenhando sistemas locais de alimentação, economia, governação e cultura. Não se trata de uma utopia, mas de práticas concretas e diretas: sistemas alimentares locais, moedas comunitárias, tomada de decisão circular e participativa, construção com materiais naturais, gestão regenerativa da terra. São sementes de um novo paradigma que já estão a brotar pelo mundo inteiro, provando que formas alternativas de vida não são apenas possíveis, mas já respiram e vivem!
Esta transformação exige uma abordagem sistémica e multidimensional. Precisamos simultaneamente de grandes mudanças legislativas a nível político (top-down), assim como uma rede invisível de micro-ações (bottom-up), através de comunidades emergentes locais, iniciativas grassroots, auto-organizadas, descentralizadas e resilientes. Como nos lembra Joanna Macy, existimos em tempos de uma “grande viragem”, em que cada pequeno gesto de reunião e cuidado contam, reverberando ondas de regeneração pelos oceanos da causalidade, e tocando gerações futuras, distantes e para lá da nossa compreensão.
Em momentos de aparente caos e colapso, abrem-se sempre possibilidades inesperadas. Tal como uma floresta renasce após um incêndio, também as nossas comunidades podem emergir renovadas, mais sábias, mais conectadas. Não se trata de romantismo, mas de esperança ativa: a compreensão profunda de que a vida é fundamentalmente saudável e fértil, adaptável e surpreendentemente capaz de se regenerar. Assim, não precisamos de tentar mudar o mundo, apenas de estar alinhados com o mundo em mudança.
Deus de amor,
mostrai-nos o nosso lugar neste mundo
como instrumentos do vosso carinho
por todos os seres desta Terra,
porque nem um deles sequer
é esquecido por Vós.
Iluminai os donos do poder e do dinheiro
para que não caiam no pecado da indiferença,
amem o bem comum, promovam os fracos,
e cuidem deste mundo que habitamos.
Os pobres e a terra estão bradando:
Senhor, tomai-nos
sob o vosso poder e a vossa luz,
para proteger cada vida,
para preparar um futuro melhor,
para que venha o vosso Reino
de justiça, paz, amor e beleza.
Louvado sejais!
Ámen.
– Papa Francisco
“… que a vossa caridade cresça cada vez mais em ciência e discernimento, para que possais distinguir o que é melhor e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo, na plenitude dos frutos de justiça que se obtêm por Jesus Cristo, para louvor e glória de Deus.” (Fl 1,8-11)
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